Bora começar a semana com uma reflexão sobre o legado do afeto dentro das empresas. É muito gratificante a gente levar para a vida amigos que fizemos no trabalho. Quem aí participa de grupos de Whats App com amigos/colegas de um ex-emprego? Imagino que essa seja uma prática comum. Depois de anos convivendo junto, o pessoal sai da empresa, passa a fase do luto corporativo e aí se depara com aquela vontade de reencontrar os colegas. A solução? Aquele grupão de Whats App no qual só entram os “escolhidos”.
O papo no grupo flui, a galera eventualmente se ajuda trocando contatos do mercado, indicando para vagas de emprego/jobs, rolam aquelas fotos das festas de debutante da filha, dos bebês, pets… enfim, tudo transcorrendo conforme a normalidade social. Até que uma mini guerra se instaura no grupo, quando alguém, um ser iluminado, joga a pergunta bombástica:
Vamos colocar nosso(a) ex-chefe no grupo, pessoaaaalllll????
O casa cai por alguns minutos. Absolutamente todos, exceto o iluminado, são contra a entrada do(a) chefe na patota. E cada um dos mais de 70 membros (sim, a história é real) começa a justificar o motivo pelo qual não tem nenhum interesse de interagir com aquele(a) ex-líder.
É quando os diálogos se transformam quase em uma terapia em grupo e é possível perceber o quanto aquele(a) líder não só perdeu a chance de construir relações de afeto como, na verdade, espalhou muito desafeto.
Esse(a) chefe conseguiu, no máximo, estabelecer com seus colaboradores uma relação comercial. Afinal, é visível o fato de que todos estavam na empresa em troca da remuneração. Porque, com um líder rejeitado por quase uma centena de profissionais, não dá para dizer que o ambiente corporativo era saudável, agradável e bem quisto.
Imaginem a potência do networking dessa liderança se a situação fosse contrária, se fosse uma pessoa com a qual todos quisessem manter contato, seguir acompanhando seus passos e o(a) admirando.
Esse(a) líder teria conquistado uma rede de afeto corporativa. E o que, no meu entender, esse tipo de rede proporciona?
- O(A) líder segue acompanhando os movimentos desses talentos e tem a oportunidade de voltar a tê-los em seu time no futuro;
- Os talentos levam para o mercado boas histórias vividas com aquela liderança, contribuindo com a reputação e carreira daquele(a) executivo(a)/empreendedor(a);
- O(A) líder pode ser requisitado(a) para mentorar profissionais em desenvolvimento para cargos de liderança, ou seja, tem a chance de compartilhar aprendizados, o que, para mim, é um privilégio;
- O líder tem também a chance de contribuir com um ecossistema corporativo calcado em relações de mais confiança e cooperação.
Portanto, só posso dizer: “azar das lideranças que não escolheram priorizar pessoas na gestão do negócio”. Elas podem achar que não, mas sempre estarão sozinhas.
* Por Thays Aldrighe, idealizadora da Tecere.
Texto publicado originalmente no LinkedIn.
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