Quem dá mais? Era assim o princípio básico da minha vida profissional até conhecer a Rede TECERE. Vim de uma família em que todo mundo se ajudava para ter contas e faculdades pagas no final do mês. Então, na minha cabeça, o que importava eram as cifras que se somariam à renda mensal familiar. A regra (de novo, na minha cabeça) era clara: se é honesto, eu aguento.
No auge da adolescência, aos 16 anos, no meu segundo emprego, uma proposta: “Vou deixar você rica, vou te apresentar o mundo, mas tem uma condição: você não pode contar aos seus pais, eles vão barrar você”. O convite era do meu patrão, um senhor na faixa dos 50, 60 anos, dono de uma imobiliária, e veio dias depois de uma prima ter entrado para as estatísticas do feminicídio. Foi a única vez em que fui “rebelde” de sair do emprego sem ter outro para ir. Mas, acredita que antes busquei apoio dos meus pais, porque mesmo assim estava com a consciência pesada de “abandonar um emprego”? E, se eu tive uma sorte, foi a de ter uma instituição familiar estruturada e o apoio total deles.
De lá para a rede, eu passei por “temos hora para entrar e não temos para sair”, “20 horas de trabalho seguidos”, “vou para casa cochilar e já volto”, “somos um coletivo, mas você precisa bater cartão”, um convite para ser sócia na “condição de não engravidar nos próximos 3 anos”, levar bronca por não atender uma ligação de trabalho (que não era urgente, mas mesmo que fosse) durante a consulta do pré-natal em que descobri que tinha chances de pré-eclâmpsia. Quando encontrava um emprego “melhor” e recebia uma contraproposta, ficava. Aconteceu três vezes. “Se é honesto, eu aguento, tenho compromissos financeiros e, se vai me pagar mais, então vai ficar mais fácil”. Não ficava.
E naqueles “sambariloves” de mudança de contrato, fui sutilmente descartada após o bebê nascer. O mercado de comando e controle tem restrições às mães. E eu achava que tinha bons relacionamentos.
Foi aí que me apresentaram para a rede. Encontrei gente incrível, histórias, empatia e forças que me deram tantos impulsos. Sempre acreditei que estava tudo bem passar perrengues no emprego, fazia parte da vida e, em especial a Thays e a Jéssica, me mostraram que não era assim que a roda tinha que girar.
Até que um dia tive um insight: se eu não preciso mais aceitar “menos que isso” no trabalho – onde seria “normal” – então, espera, eu não preciso aceitar menos que isso na minha vida, que só depende de mim. E aí encarei a realidade: nunca estive em um bom relacionamento. Nem profissional, nem pessoal. Achava que “aguentar tudo” era sinônimo de resiliência.
Foi assim que eu tive coragem de sair de um outro relacionamento tóxico. Já se estendia por longos 16 anos e nem era trabalho. E sabe a rede? Se uniu para me ajudar! Olha que loucura. Recebi ajuda de quem nem me conhecia, só sabia que eu estava ali na jornada da vida. Na rede, a gente não luta ou sobrevive, a gente vive!
E o dinheiro? Descobri que dava para prosperar financeiramente sem precisar me leiloar em locais que tratam funcionários como máquinas. Que eu posso ter tempo para mim, para a família e para o trabalho, e pagar com sucesso todos os boletos. Na rede, recebe-se por cada job que entra. Seja cliente novo, seja demanda nova. Não tem essa de trabalhar bastante para o chefe fazer uma bela viagem no final do ano. Comprei meu apartamento, matriculei meu filho na natação e passo meus finais de semana no interior. Ah, a paz.
Não sei se a Thays tem noção real do que ela criou. Vai além de trabalho, é uma forma de ver a vida, precisa ser colaborativa, leve e reconhecida. Hoje vivo o companheirismo na sua totalidade, a empatia me rodeia. O placar: 0 grito, 0 bronca, 0 humilhação, 0 abuso. Um resultado que pode ser aplicado no meu pessoal e no meu profissional. Me permiti entrar para um trabalho e para um casamento sadio. Eu agradeço por poder acompanhar de perto o crescimento e desenvolvimento do meu filho e dar esse exemplo. Ele vai crescer sabendo que não deve – e nem é necessário – leiloar sua qualidade de vida por dinheiro, que precisa respeitar e ser respeitado e levar nosso mantra adiante: nessa casa ninguém grita. Nesse trabalho, também não.
Paula Quintas, jornalista e especialista em social media da Rede TECERE.